@leandro_karnal

Leandro Karnal

Brazil
Recebi a imagem. Não sei a autoria. Se alguém indicar, agradeço. Assustou-me. Vamos tentar racionalizar um pouco.

O que mostra? Uma mão, branca, segurando uma mão negra que tenta atacar (com unhas diabólicas e uma manga com o arco-íris). A mão, branca, salva uma família com pai, mãe, dois filhos (menino e menina). O texto que acompanhava a imagem era uma crítica sobre uso de “todes”. Eu me fixarei na imagem.

01)	Propagandas de mãos do “mal” atacando a família perfeita eram MUITO usadas no nazismo. Naquele momento, a mão era de um “judeu” atacando a família “ariana”. Quem detinha o ataque era outra mão forte, em geral de um soldado nazista. 
02)	A imagem trabalha com um arquétipo: existe uma família clássica, feliz e perfeita, alvo de um ataque externo. Cria o duplo mito: havia uma idade de ouro (antes do discurso identitário ou de gênero) e o mal é sempre externo. No passado (minha infância, ou na ditadura militar ou no meu imaginário) todos eram felizes, não existiam problemas. 
03)	O apelo funciona: se não houvesse o discurso identitário (gênero, raça etc) todos ficariam bem. 
04)	O discurso cria a família perfeita, harmônica, porém... defende a força da mão. O objeto implícito não é a família, todavia o punho forte que pode deter o ataque. O discurso favorece as pessoas ou os grupos que possam encarnar a mão branca. 
05)	Primeiros problemas? Racismo declarado. Depois: os filhos, o pai ou a mãe podem ser gays, ou bissexuais ou qualquer outra coisa fora do discurso normativo tradicional. A existência de discursos identitários “de fora” não criarão ou apagarão identidades dentro da família. 

Há mais a ser dito. A imagem, para um historiador, tem um eco nefasto de totalitarismo como virtude.

Recebi a imagem. Não sei a autoria. Se alguém indicar, agradeço. Assustou-me. Vamos tentar racionalizar um pouco. O que mostra? Uma mão, branca, segurando uma mão negra que tenta atacar (com unhas diabólicas e uma manga com o arco-íris). A mão, branca, salva uma família com pai, mãe, dois filhos (menino e menina). O texto que acompanhava a imagem era uma crítica sobre uso de “todes”. Eu me fixarei na imagem. 01) Propagandas de mãos do “mal” atacando a família perfeita eram MUITO usadas no nazismo. Naquele momento, a mão era de um “judeu” atacando a família “ariana”. Quem detinha o ataque era outra mão forte, em geral de um soldado nazista. 02) A imagem trabalha com um arquétipo: existe uma família clássica, feliz e perfeita, alvo de um ataque externo. Cria o duplo mito: havia uma idade de ouro (antes do discurso identitário ou de gênero) e o mal é sempre externo. No passado (minha infância, ou na ditadura militar ou no meu imaginário) todos eram felizes, não existiam problemas. 03) O apelo funciona: se não houvesse o discurso identitário (gênero, raça etc) todos ficariam bem. 04) O discurso cria a família perfeita, harmônica, porém... defende a força da mão. O objeto implícito não é a família, todavia o punho forte que pode deter o ataque. O discurso favorece as pessoas ou os grupos que possam encarnar a mão branca. 05) Primeiros problemas? Racismo declarado. Depois: os filhos, o pai ou a mãe podem ser gays, ou bissexuais ou qualquer outra coisa fora do discurso normativo tradicional. A existência de discursos identitários “de fora” não criarão ou apagarão identidades dentro da família. Há mais a ser dito. A imagem, para um historiador, tem um eco nefasto de totalitarismo como virtude.

July 27, 2021

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